segunda-feira, 17 de novembro de 2014

DISCO 2: CLARA NUNES > AS FORÇAS DA NATUREZA

Mês passado assistimos à Mariana Aydar no Tom Jazz e ela interpretou a música que dá nome ao disco. Arrepios, arrepios... Disse que escolheu esta música pois era MUITO atual. Ô.

Clara Nunes dá força ao painel apocalíptico que João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro descrevem, revertendo o mundo ao natural:
Os palácios vão desabar/ Sob a força de um temporal/ E os ventos vão sufocar o barulho infernal/ Os homens vão se rebelar/ Dessa farsa descomunal/ Vai voltar tudo ao seu lugar/ Afinal/ .../ Das ruínas um novo povo vai surgir/ E vai cantar afinal/ As pragas e as ervas daninhas/ As armas e os homens de mal/ Vão desaparecer nas cinzas de um carnaval

Água mole, pedra dura...

Em PCJ (Partido Clementina de Jesus), só continua a desconstrução. A branca diz Não vadeia, Clementina e a negra afirma repetidamente Fui feita pra vadiar.
Me lembrei de uma conversa que tive recentemente com alguém do Norte que me veio chiar que o povo de lá é "muito índio", "não gosta de trabalhar"...
Não soube esconder minha cara de indignação e só soube balbuciar algumas palavras sobre processo histórico, que os sistema de vida europeu nos foi imposto, que não dá pra dizer qual era o modo certo... Claro que não entendeu.
Pois Clara e Clementina respondem com muito mais classe e clareza que eu:
O homem é civilizado, a sociedade é que faz sua imagem/ Mas tem muito diplomado, que é pior do que selvagem
Tomou? Quer mais?
Senhora das Candeias começa com um Eu não sou daqui, eu sou de lá... Tudo pra Oxum.

A própria Oxum?
(clique numa das capas para ouvir o disco completo)

Tem ainda a linda e melancólica Rancho da Primavera, o Coração Leviano de Paulinho da Viola e o Palhaço do Nelson Cavaquinho (aos 33:16 no link do disco completo), que a Céu regravou linda e recentemente. Sem falar da doída entrega de amor em A Flor da Pele. Linda de chorar.

Encarte interno: acho que esses bracinhos também são d'Oxum...

E pra terminar o disco, vai de Chico num Fado Tropical.
Chico começa sua versão "original" dizendo que esta terra ainda vai tornar-se um imenso Portugal (de quem herdamos o lirismo e também a sífilis) e termina com vai tornar-se um império colonial.

Já Clara resolveu fazer assim:
Ai, essa terra ainda vai cumprir seu ideal/ Ainda vai tornar-se...
E ouve-se o vibrato de Clara e o estalo da Cremilda (a vitrola) dizendo que acabou.


Sem mais: descolonize-se com Clara.

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