terça-feira, 25 de novembro de 2014

DISCO 3: JOANNA > JOANNA (1986)

Acho que este foi o ápice da carreira da Joanna. Puro romantismo com pitadas de sexualidade.
Aqui entre nós, minha mente poluída catou um monte de referências deliciosas tipo "O que eu gosto é de rosas" by Ana Carolina.

Nos anos 80, reinava aquela história de que capa de disco é pra vender e pra vender precisa de... sexo. Aí colocam a moça assim, cantando Diz a frase certa, só você sabe me abrir... Mais? :P

Quando bater na porta, deixe entrar...

Amanhã Talvez, gata. :P E lá tava o Edenzinho, cantando com sua voz de aguda de menino na mesma oitava da moça, pelas ruas de Primavera-PE ou na cozinha do apartamento em Salvador enquanto Raimunda ouvia rádio lavando a louça... Só mais uma vez/ Amanhã Talvez/ Só mais uma vez/ O amor que a gente feeeeeeeeeeeeeeeeeeeez... E nem precisava saber exatamente o que era amor, néam?

Um Sonho a Dois quase me arrancava lágrimas. Esse negócio de Ele (ou ela) é tudo, enfim/ Que eu preciso ter convencia pra cacete. E aquela gemidinha depois de Mas você divide/ Na metade/ Um desejo no olhar? (TODO MUNDO!) OH, OH!
E aquele coro que o Roupa Nova faz? Shananana/ Shananana... Delícia. A ponto de eu aprender a tocar essa bagaça no teclado, anos depois, trocando as vozes sintéticas simulando a voz dele e dela. hihihi

Pra te ganhar de norte a sul!


Mas o ponto do disco foi mesmo ouvir Teu Caso Sou Eu, que minha memória tinha guardado só a versão do Leonardo (o irmão do Michael Sullivan que fazia mais sucesso no nordeste). Só não é mais forte que a lembrança das cantorias nos churrascos em tantos quintais, com meu irmão Tubarão tocando e a família toda (primos, tios e agregados) cantando uns pros outros, evidenciando a paixão que esta família tem por seus componentes:
É complicado demais este amor/ Mas não tem jeito de acabar/ Um ficou viciado no outro/ De repente você vai voltar/ A gente já passou por tanta coisa e superou/ As barras mais pesadas juntos a gente segurou/ Você me conhece por dentro (ok, aqui a gente lembra da capa de novo!)/ Até meu pensamento/ E tudo que sou/ .../ E tem que dar certo porque... (pausa dramática)/ NOS AMAMOS DEMAIS!

Tem outras dores de cotovelos lindinhas lá, como Aconteceu. Pena que não achei um link com todas elas grudadinhas. Assim que eu aprender a converter de LP pra MP3 na Cremilda, eu posto aqui. :)

Atire a primeira pedra quem nunca amou assim... Ou quem nunca fez um bailinho no quarto dos fundos com os irmãos e amiguinhos. :)


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

DISCO 2: CLARA NUNES > AS FORÇAS DA NATUREZA

Mês passado assistimos à Mariana Aydar no Tom Jazz e ela interpretou a música que dá nome ao disco. Arrepios, arrepios... Disse que escolheu esta música pois era MUITO atual. Ô.

Clara Nunes dá força ao painel apocalíptico que João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro descrevem, revertendo o mundo ao natural:
Os palácios vão desabar/ Sob a força de um temporal/ E os ventos vão sufocar o barulho infernal/ Os homens vão se rebelar/ Dessa farsa descomunal/ Vai voltar tudo ao seu lugar/ Afinal/ .../ Das ruínas um novo povo vai surgir/ E vai cantar afinal/ As pragas e as ervas daninhas/ As armas e os homens de mal/ Vão desaparecer nas cinzas de um carnaval

Água mole, pedra dura...

Em PCJ (Partido Clementina de Jesus), só continua a desconstrução. A branca diz Não vadeia, Clementina e a negra afirma repetidamente Fui feita pra vadiar.
Me lembrei de uma conversa que tive recentemente com alguém do Norte que me veio chiar que o povo de lá é "muito índio", "não gosta de trabalhar"...
Não soube esconder minha cara de indignação e só soube balbuciar algumas palavras sobre processo histórico, que os sistema de vida europeu nos foi imposto, que não dá pra dizer qual era o modo certo... Claro que não entendeu.
Pois Clara e Clementina respondem com muito mais classe e clareza que eu:
O homem é civilizado, a sociedade é que faz sua imagem/ Mas tem muito diplomado, que é pior do que selvagem
Tomou? Quer mais?
Senhora das Candeias começa com um Eu não sou daqui, eu sou de lá... Tudo pra Oxum.

A própria Oxum?
(clique numa das capas para ouvir o disco completo)

Tem ainda a linda e melancólica Rancho da Primavera, o Coração Leviano de Paulinho da Viola e o Palhaço do Nelson Cavaquinho (aos 33:16 no link do disco completo), que a Céu regravou linda e recentemente. Sem falar da doída entrega de amor em A Flor da Pele. Linda de chorar.

Encarte interno: acho que esses bracinhos também são d'Oxum...

E pra terminar o disco, vai de Chico num Fado Tropical.
Chico começa sua versão "original" dizendo que esta terra ainda vai tornar-se um imenso Portugal (de quem herdamos o lirismo e também a sífilis) e termina com vai tornar-se um império colonial.

Já Clara resolveu fazer assim:
Ai, essa terra ainda vai cumprir seu ideal/ Ainda vai tornar-se...
E ouve-se o vibrato de Clara e o estalo da Cremilda (a vitrola) dizendo que acabou.


Sem mais: descolonize-se com Clara.

sábado, 8 de novembro de 2014

DISCO 1: NOVOS BAIANOS > CAIA NA ESTRADA E PERIGAS VER

Um clássico cheio de sucessos como Brasileirinho e Ziriguidum. E a música que dá nome ao disco, cheia de pérolas retiradas de para-choques de caminhões:

Meus para-choques pra você (trocadilhos que adorávamos fazer pra zoar na escola quando alguém ia bem em alguma coisa)
Estamos nos últimos dias de outrora
A mulher que andou na linha o trem matou


Cremilda ficou foi feliz com esta estréia tão cult

Baby fazendo a santa grávida...
(clique na capa para ouvir o disco completo)
... e uma puta do outro lado. Pepeu sensualizando, tempos antes de ser masculino AND feminino.

Aprendi a tocar Brasileirinho no teclado quando criança. Claro que o grande desafio era tocar a repetição com o tempo dobrado, SEM ERRAR.

Um disco pra colocar em festinha na sala e deixar rolar inteiro, tipo lounge ou pra cachoalhar o esqueleto loucamente depois de umas caipiroskas desinibidoras...

As instrumentais Biribinha nos States e Rocârnaval devem dar umas coreôs bem bacanas! Pepeu descascando mostrando que veio ao mundo não só pra sensualizar na capa.

As boas surpresas foram Eu não Procuro Som (a janela tá aberta/ o galo canta) com sua despretensão de só deixar o som entrando pela cera do ouvido...
E a pérola-mor de Suor do Sol na voz doce de Baby: Ame Amem Amem/ mas um acento no é/ Fechou tudo em Amém Amém.
Como minha persona artística adora vagar pela melancolia, cantaria as duas pra ontem. :) Ai, ai.

Por fim, soltura e integridade artística de dar inveja. E que faz a gente pensar, como diz o Everton, "Por que a gente não foi jovem nos anos 70?".

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Começou!

Ano passado meus pais se mudaram de volta pra Salvador, minha cidade natal. E eu herdei em vida os mais de 700 LPs que meu pai (o Mafra) guardava. Tem de tudo: do fino ao trash.

1 por semana até 2028? Tesouros sempre bem guardados por Zeus e cia.

Durante meu ano sabático (2013), fiz uma primeira triagem e os separei nas seguintes categorias:
- Ouvir primeiro (uma pré-seleção do que mais me chamou a atenção)
- Cantores
- Cantoras
- Duos/ Trios/ Grupos
- Trilhas/ Coletâneas
- Latina
- Disco (Disco Music - anos 70)
- Festas
- Forró/ Duplo Sentido
- Humor
- Orquestra
- Instrumental

Pensamos em restaurar a vitrola National da mãe do Everton, mas ficou mais em conta comprar a CREMILDA (em homenagem à famosa cantora de "Seu delegado prende o Tadeu") que tem até saída USB pra converter os discos e fitas pra mídia eletrônica.


Cremilda, nossa estrela maior


A proposta é ouvir pelo menos um disco por semana. Ou seja, vai demorar uns... 14 anos? :P

Antes de mais nada, não sou crítico de música e nem tenho esta pretensão. A ideia é ouvir mesmo, ouvir com o coração e escrever sobre aquilo que me ocorre. Porque a arte é assim, ela é fenômeno, ela se manifesta, ela é... e só.

E, claro, isto tudo é uma singela homenagem a este outro Eden (o Mafra - que me influencia mesmo quando em seu silêncio interior), a todas as conversas que não tivemos sobre esses discos e a todas as conversas que ainda teremos. Homenagem também estendida à Dona Zeza, minha mãe, musa inspiradora de todas as músicas românticas colecionadas.

Divirtamo-nos!